Não há quem não o conheça no mundo da relojoaria nacional. Já aposentado, Américo Henriques fala-nos sobre o panorama do setor em Portugal, da formação e das memórias que um dia espera escrever numa obra que servirá de referência para as gerações futuras.
Uma carreira da qual se pode orgulhar e que faz de si uma referência no setor…
Não me considero uma referência no setor, creio que apenas dei resposta ao que a IHS e os meus alunos esperavam de mim. Em suma, a carga horária dedicada à componente de formação técnica que atribuía aos jovens formandos o título profissional de “Técnico de Relojoaria” passava de mais de 3.900 horas para 1600! Durante dois anos tentei explicar e provar mediante padrões internacionais, que era impossível formar um Técnico de Relojoaria competente com essa carga horária. Foi-me reconhecida razão pelas instâncias competentes da Provedoria da CPL e do ME, mas como se tratava duma decisão política tomada a nível ministerial, não havia volta a dar-lhe. Achei que não podia continuar, para não enganar os meus alunos nem os seus potenciais empregadores e, por isso, requeri a aposentação, pois tempo de serviço não me faltava.
Não há quem não o conheça no mercado da relojoaria, foi mestre praticamente de todos os relojoeiros no ativo, formados em Portugal. Sente-se acarinhado, respeitado, ou sente que, de alguma forma, o seu papel no setor não é reconhecido?
Sinto-me respeitado e até acarinhado pela grande maioria daqueles a quem tive oportunidade de dar formação, isto apesar dos níveis de exigência “suíça” porque pauto as minhas intervenções. Quando penso nas dezenas de ex-alunos meus que ocupam bons postos de trabalho num país como a Suíça, não posso deixar de me sentir realizado. Até os meus três filhos, todos técnicos de relojoaria, por lá estão: dois na Omega e uma na Jaeger-Lecoultre.
Com um curriculum extenso que conta com várias décadas de prática, ensino e várias formações na WhoStep e na Ecole d’Horlogerie de Genève, o que lhe falta fazer na carreira?
Continuo a realizar ações de formação e informação para empresas do setor, sobretudo importadores. Por vezes divirto-me a fazer “conferências/palestras” de divulgação da arte relojoeira em geral e de algumas peças extraordinárias em particular, por exemplo em Universidades Sénior. Depois de ter escrito dezenas de manuais e apontamentos de apoio para os cursos que ministrei, e de ter publicado dezenas de artigos em diversas revistas, talvez seja altura de compilar a minha carreira num livro sobre “A história e as estórias dos relógios”.
Recorde a entrevista a Américo Maria Henriques na revista JoiaPro Luxury 6.